Promover a Acessibilidade Digital na Europa: Conversa com Susanna Laurin (Funka Foundation)
Tive a oportunidade de falar recentemente com a Susanna Laurin, Diretora da Funka Foundation e uma das vozes mais influentes no panorama da acessibilidade digital a nível europeu. A conversa, abordou temas fundamentais como a evolução da legislação europeia, a importância dos testes com utilizadores reais e o modo como a acessibilidade deve ser incorporada desde o início nos processos de design e desenvolvimento.
O que é a Funka Foundation?
A Funka Foundation é uma organização de investigação independente, sediada em Estocolmo, mas com equipas espalhadas pela Europa. O seu trabalho concentra-se em promover a inclusão de pessoas com deficiência através de projetos de investigação, serviços de consultoria, auditoria, formação e desenvolvimento de novas abordagens para tornar a tecnologia verdadeiramente acessível.
Segundo Susanna Laurin, a designação “Funka” está relacionada com a ideia de “funcionalidade” e “habilidade”, em sueco, evidenciando desde logo o foco na construção de soluções que funcionem para todas as pessoas. A Funka Foundation destaca-se por envolver de forma ativa pessoas com diversos tipos de deficiência em todas as etapas de análise e teste.
A Liderança de Susanna Laurin
Com um vasto percurso dedicado à acessibilidade, Susanna esteve envolvida em importantes avanços legislativos e na criação de normas técnicas na Europa. Desde a participação na fundação da IAAP (International Association of Accessibility Professionals) até à colaboração com a Comissão Europeia e o Parlamento Europeu, o seu trabalho tem sido essencial para o desenho de políticas e diretrizes que visam a inclusão digital.
Atualmente, Susanna lidera o grupo responsável pela revisão e criação das normas relacionadas com a European Accessibility Act (EAA), a diretiva que deverá impulsionar a uniformização da acessibilidade em toda a União Europeia. A implementação prática está prevista para 28 de junho 2025, obrigando empresas e organizações a adotar requisitos que garantam o acesso a produtos e serviços digitais por todos os cidadãos, independentemente das suas capacidades funcionais.
O Desafio do European Accessibility Act
Ao contrário do RGPD (GDPR), o European Accessibility Act é uma diretiva e não um regulamento, o que permite algumas diferenças de aplicação entre Estados-Membros, sobretudo ao nível das sanções e mecanismos de fiscalização. Contudo, os requisitos base e as datas de cumprimento são iguais para todos, tendo como objetivo:
- Harmonizar as regras de acessibilidade no mercado interno.
- Incentivar a inovação e competitividade das empresas.
- Melhorar a oferta de produtos e serviços digitais acessíveis para pessoas com deficiência.
Susanna realça que o foco do EAA não está apenas na vertente “social” ou na proteção das pessoas com deficiência, mas também na criação de valor económico. Ao fazer com que produtos e serviços sejam acessíveis, fomentam-se oportunidades de negócio e reduz-se o desperdício de recursos em soluções que precisem de ser corrigidas mais tarde.
Porque é Importante Envolver Utilizadores Reais
Uma das grandes bandeiras da Funka Foundation é realizar testes de acessibilidade com utilizadores que possuem várias deficiências e diferentes níveis de literacia digital. Isto evita o erro de apenas testar com pessoas muito experientes em leitores de ecrã ou com competências técnicas avançadas — o que pode levar a conclusões incompletas.
Aliás, um dos desafios mencionados por Susanna é a tendência de, muitas vezes, a acessibilidade se resumir à ótica dos leitores de ecrã, ignorando necessidades de pessoas com deficiências cognitivas, dificuldades de fala (como a gaguez) ou até de quem, simplesmente, não se sente à-vontade com a tecnologia. O ideal é abordar a acessibilidade de forma holística, englobando conteúdo, design de interfaces (UI/UX) e tecnologia assistiva.
Recomendações para as Organizações
Se a sua empresa ou organização está agora a despertar para a importância da acessibilidade — e a aproximar-se do prazo de 28 de junho — é fundamental:
- Avaliar a Situação Atual
• Fazer uma análise dos produtos/serviços, processos internos e equipas.
• Identificar lacunas de conhecimento e recursos disponíveis.
- Formar as Equipas
• Garantir que designers, programadores e criadores de conteúdos compreendem os princípios de acessibilidade.
• Considerar formação especializada ou consultores externos certificados (ex.: IAAP).
- Criar Processos de Trabalho Inclusivos
• Definir fluxos de trabalho onde a acessibilidade seja integrada desde o início.
• Identificar responsáveis para validação e controlo de qualidade em cada etapa de desenvolvimento.
- Incluir Utilizadores com Deficiência
• Realizar testes com pessoas reais, de diferentes perfis e graus de experiência em tecnologia.
• Manter ciclos de feedback contínuos, evitando corrigir falhas de forma tardia e onerosa.
A conversa com Susanna Laurin relembra-nos de que a acessibilidade digital é um direito fundamental e, simultaneamente, uma oportunidade de inovação e competitividade para as empresas. O European Accessibility Act promete mudar o paradigma europeu, incentivando a conceção de serviços e produtos que, pela sua natureza inclusiva, poderão beneficiar todos os utilizadores.
Para saber mais sobre o trabalho da Funka Foundation e explorar recursos úteis para a sua organização, visite o site oficial em Funka Foundation.
Acompanhe-me nas redes sociais LinkedIn e Bluesky. À medida que nos aproximamos de junho de 2025, a preparação atempada e a adoção de práticas de conceção inclusiva serão cruciais para garantir a sustentabilidade e o sucesso no mercado digital europeu.
